Campos eletromagnéticos e saúde pública
O uso da eletricidade tornou-se parte integral do nosso quotidiano. Sempre que há um fluxo de eletricidade, campos elétricos e magnéticos são criados nas proximidades dos condutores elétricos e nas proximidades de equipamentos elétricos. Desde o final dos anos setenta foram levantadas várias perguntas se a exposição a campos elétricos e magnéticos (CEM), de frequência extremamente baixa, produzem consequências adversas para a saúde. A partir daí muito se pesquisou, resolvendo com sucesso importantes questões e estreitando o foco para pesquisas futuras.
Campos elétricos e magnéticos existem sempre que há fluxo de corrente elétrica – em linhas de transmissão, distribuição, cabos, fiação residencial e equipamentos elétricos. Campos elétricos originam-se de cargas elétricas, são medidos em volts por metro (V/m) e são facilmente blindados por materiais comuns tais como madeira e metal. Campos magnéticos são gerados pela movimentação de cargas elétricas, isto é, uma corrente), são expressos em Tesla (T), ou mais freqüentemente em militesla (mT) ou microtesla (µT). Em alguns países uma outra unidade chamada Gauss (G) é freqüentemente usada (10.000 G = 1 T). Estes campos não são blindados pela maioria dos materiais comuns, e os atravessam facilmente. Ambos os tipos de campo tem maior intensidade na proximidade da fonte e diminuem com a distância. A maioria da potência elétrica opera à frequência de 50 ou 60 ciclos por segundo, ou hertz (Hz). Próximo a certos equipamentos elétricos os valores de campos magnéticos podem ser da ordem de umas poucas centenas de microtesla. Sob linhas de transmissão campos magnéticos podem ser da ordem de 20µT e campos elétricos podem ser de alguns milhares de volts por metro. Entretanto, os campos magnéticos médios nas casas, na frequência de potência, são muito mais baixos, cerca de 0,07µT na Europa e 0,11µT na América do Norte. Valores médios de campos elétricos nas residências chegam até a algumas dezenas de volts por metro.
Em outubro de 2005, a OMS reuniu um grupo de trabalho de especialistas científicos para avaliar qualquer risco para a saúde que pudesse existir pela exposição a campos elétricos e magnéticos numa faixa de frequência maior do que 0 até 100.000 Hz (100 kHz). Enquanto o IARC examinou em 2002 a evidência com relação a cancro, este grupo de trabalho reviu a evidência para vários efeitos sobre a saúde e atualizou a evidência em relação ao cancro. As conclusões e recomendações do grupo de trabalho estão apresentadas na monografia “WHO Environmental Health Criteria – (EHC)” (OMS – Critérios de Saúde Ambiental, WHO, 2007). Seguindo um procedimento padronizado de avaliação de risco, o grupo de trabalho concluiu que não há uma questão de saúde substancial relacionada a campos elétricos de baixa frequência nos níveis normalmente encontrado por indivíduos da população em geral. Portanto, o restante deste “Fact Sheet” está direcionado predominantemente para os efeitos de campos magnéticos de baixa frequência.
Efeitos potenciais de longo prazo
Muita pesquisa científica examinando riscos de exposição de longo prazo a campos magnéticos de baixa frequência foi focalizada na leucemia infantil. Em 2002 a IARC publicou uma monografia classificando campos magnéticos de baixa frequência como “possível carcinogénico” para humanos. Esta classificação é usada para denotar um agente para o qual existe uma limitada evidência de carcinogénese em humanos e uma menos que suficiente evidência para carcinogénese em experiências com animais (outros exemplos incluem café e emissões em processos de soldagem). Esta classificação foi baseada na análise de dados agregados de estudos epidemiológicos demonstrando um padrão consistente de incremento de duas vezes na leucemia infantil associado a uma exposição média residencial, a campos magnéticos de frequência de potência, acima de 0,3 a 0,4µT. O grupo de trabalho concluiu que estudos adicionais desde então não modificaram esta classificação. Entretanto a evidência epidemiológica é enfraquecida por problemas metodológicos, tais como um potencial viés de seleção. Adicionalmente não há um mecanismo biofísico aceite que pudesse sugerir que exposições de baixo nível de intensidade estão envolvidas no desenvolvimento de cancro. Portanto, se há algum efeito da exposição a estes campos de baixa intensidade, seria através de um mecanismo biológico ainda desconhecido. Além disto, estudos com animais têm tido resultados negativos.
Em suma, a evidência relacionada com leucemia infantil não é forte o suficiente para ser considerada causal. A leucemia infantil é uma doença relativamente rara, com um número total anual de novos casos estimado em 49.000 no mundo todo em 2000. Exposições médias a campos magnéticos acima de 0,3µT em residências são raras: estima-se que apenas entre 1% a 4% das crianças vivem em tais condições. Se a associação entre campos magnéticos for causal, o número de casos, em todo o mundo, que poderia ser atribuído à exposição a campos magnéticos é estimado na faixa entre 100 a 2400 casos por ano, baseado em valores para o ano 2000, representando de 0,2 a 4,95% do total de ocorrências para aquele ano. Portanto, se campos magnéticos de baixa frequência na realidade aumentam o risco para a doença, o impacto sobre a saúde pública, quando considerado num contexto global, seria limitado.
Vários outros efeitos adversos sobre a saúde têm sido estudados para uma possível associação com campos magnéticos de baixa frequência. Eles incluem outros tipos de cancro em crianças e adultos, depressão, suicídio, distúrbios cardiovasculares, disfunções na reprodução, distúrbios no crescimento, alterações imunológicas, efeitos neuro-comportamentais e doenças neuro-degenerativas. O grupo de trabalho da OMS concluiu que a evidência científica que sustenta uma associação entre a exposição campos magnéticos de baixa frequência e todos estes efeitos sobre a saúde é muito mais fraca que para a leucemia infantil. Em algumas situações (isto é, para doenças cardiovasculares ou cancro mama) a evidência sugere que estas doenças não são causadas por estes campos.
RECOMENDAÇÕES INTERNACIONAIS DE EXPOSIÇÃO
Efeitos sobre a saúde relacionados à exposição aguda a altos níveis de campos foram estabelecidos e formam a base para duas recomendações internacionais de limites de exposição (ICNIRP, 1998; IEEE, 2002). Atualmente, estes órgãos consideram que a evidência científica relacionada com possíveis efeitos sobre a saúde para exposição de longa duração a baixos níveis de campos de baixa frequência é insuficiente para justificar a redução destes limites quantitativos de exposição.
Fonte:
https://www.who.int/peh-emf/publications/facts/bs_fs_304_portuguese.pdf